Poema escrito em momento no qual eu pensava o quanto ainda somos escravos. Pensava ainda, que se eu branco, assim me sinto, o quanto assim não se sente um negro pobre, que é duplamente excluído. Segue:
Nêgo
Lágrima, suor e sangue
Exangue, rodopia tonto
No chão, encontra repouso
Cálice de fel, irmão…
Nego que nego, nêgo
Nego que nego, nêgo
Nego que lhe nego, nêgo
E tua escravidão.
Orixás sufocam o choro
Diante do choro dos filhos
Gemidos confusos, desgosto
Rebentos mortos em vida
Nego que nego, nêgo
Nego que nego, nêgo
Nego que nego, nêgo
Sua escravidão.
As luzes do morro alumiam
O riso de um povo sofrido
Marmita dormida do dia
Amarga e severina sina
Nego que nego, nêgo
Nego que nego, nêgo
Nego que lhe nego, nêgo
E sua escravidão
Nego que nego, nêgo
Nego que nego, nêgo
Nego que nego, nego
Sua escravidão.