Eu, aleijão nefasto
Filho de Hefesto
Discípulo de Dioniso
Subo ao fundo do mais fundo poço
Quando preciso respirar,
Mas me afogo nas águas do desvario e da incerteza.
Execra-me, pisoteia-me
A mim que desde tenros anos
Busquei ser o melhor que pude
Mas que só vi ferros e açoites
No caminho
Escarre e contemple o
Escorrer de seu catarro em minha face
Tu, ó vida que se reveste de tiranos
E de achacadores para roubar-me
O níquel, os valores e o juízo.
Tu que me roubaste a esperança
Golpeando duramente aquele
Que me fôra deus, que me fôra mestre,
Que me ensinara a ser homem, como ele.
Tu que tornaste minha fé, coisa rala
Hoje tripudia de minhas dores causando novas chagas.
Tu que escrutina meus menores movimentos e opera silenciosamente
Buscando derribar meus sonhos.
Tu que fizeste pó daquilo que eu cria
Finda seu trabalho e rouba-me tudo.
Desnuda-me das certezas ignóbeis,
Referendadas pela opinião pública.
Aniquila as caras e bocas que uso para manifestar, não o que sinto, mas o que quero que achem que sinto.
Massacra todas aquelas frondosas árvores de tudo que plantei até hoje
Tira de mim o amor, este apego àquilo que já não me completa
Que não contempla o que hoje minha
Mente loucamente busca.
Você que iconoclasticamente destrói tudo em que deposito os olhos,
Tu que não és nada além de consumo
Rouba-me de ti e cria o paradoxo de tornar-te mais e mais vida enquanto torna tudo a tua volta, sua antítese, a morte.
(Lucas Lima)